LANÇAR SEMENTES À TERRA PARA CUMPRIR A MISSÃO…



"Lançar à terra sementes para o futuro em tempo tão adverso quanto este em que vivemos, não é tarefa fácil, pois, hoje, e à semelhança do que aconteceu em outras épocas do passado, existem forças que impelem e lançam os seres humanos (e, por inerência, as nações) para várias direcções, perdendo-se, momentaneamente, o objectivo anteriormente traçado. É o desvario e cada qual tenta remediar o prejuízo da melhor maneira que pode e sabe. A este propósito lembro um trecho de Fernando Pessoa que diz o seguinte:
“Uma nação, em qualquer período, é três coisas: a primeira é uma relação com o passado; a segunda uma relação com o presente, nacional e estrangeiro; a terceira, uma direcção para o futuro. Assim, em todos os períodos, há forças que tendem a manter o que está, forças que tendem a adaptar o que existe às condições presentes, e forças que tendem a dirigir o presente para um norte previsto, visionado no futuro. Não se trata aqui de partidos políticos, mas de íntimas forças nacionais”.
Que forças são essas que nos projectam de um lado para o outro e confundem o nosso ponto de orientação? Se umas são do foro colectivo do povo, como sejam as nossas individualidades e identidades próprias, outras, porém, mais recentes (e talvez não tanto), são de outro tipo, visto serem importadas do exterior, imbuídas de elementos estranhos e totalmente alheios às nossas milenares tradições, que nos transpõem para outra realidade que nos é desconhecida. É o novo desafio, sem dúvida ameaçador, que se apresenta no nosso dia a dia e nos lança para uma nova aventura: a de sempre (re)descobrir-se como povo que é, com capacidade para conseguir levantar-se e renovar-se a cada momento na resolução dos problemas mais difíceis. E, neste caso muito concreto, o futuro para nós, como povo português, com uma identidade muito própria, é saber qual a possibilidade de realizar a almejada 3ª missão de Portugal no mundo.
Será possível que, com o desconcerto que vemos espalhar-se pelo mundo actual, Portugal possa pretender cumprir a missão que alimenta a alma dos poucos lusos que ainda lutam e resistem aos novos ventos de um mundo globalizante? Esta é uma pergunta que várias pessoas colocam e cuja resposta foi, de facto, o maior desafio que alguma vez me foi colocado, pois a pergunta vive oculta e pulsa no interior de cada português, aguardando a resposta que o faça vibrar, sonhar."
Eduardo Amarante